"Fotografar é colocar na mesma linha de mira, a cabeça, o olho e o coração".
( Henri Cartier-Bresson 1994)
Aquela que nos permite materializar momentos lindos de nossa vida em imagens concretas, e nos faz relembrar com detalhes estes mesmos instantes de felicidade. Aquela que desenha, em papel luminoso ou na tela de um computador, belos lugares, imagens de profunda beleza e de imensa pobreza, histórias de famílias e amigos, artistas e mendigos, longas viagens e curtos passeios. Aquela que foi tirada pela primeira vez em 1825, pelo francês Joseph Nicéphore Niépce, fruto de um longo processo ( que atravessou séculos) de grandes descobertas na área óptica. A câmera que evoluiu até o surgimento das atuais máquinas fotográficas digitais, chamava-se câmera obscura, e tem sua origem num período muito anterior ao do surgimento da fotografia. Ainda hoje os dispositivos de fotografia são conhecidos como "câmaras".
O INÍCIO
A fotografia, portanto, não tem um único inventor, ela é uma síntese de várias observações e inventos em momentos distintos. A primeira descoberta importante para a fotografia foi a Câmara Escura. O conhecimento do seu princípio ótico é atribuído, por alguns historiadores, ao chinês Mo Tzu no século V a.C., outros indicam o filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.) como o responsável pelos primeiros comentários esquemáticos da Câmera Obscura. Aristóteles, sentado sob uma árvore, analisou a imagem do sol, em um eclipse parcial, projetando-se no solo em forma de meia lua ao passar seus raios por um pequeno orifício entre as folhas de um plátano. Observou também que quanto menor fosse o orifício, mais nítida era a imagem.
Primeira ilustração publicada da Câmara Escura, 1545.A Europa foi tomada pela superstição e pela ignorância durante muitos anos, não dando espaço ao conhecimento válido, às ciências comprováveis e concretas. Todas as informações obtidas pelos gregos foram resguardadas com os orientais, responsáveis por grande desenvolvimento da óptica. Um exemplo disso foi as observações feitas pelo erudito árabe, Ibn al Haitam (965-1038), o Alhazem, que observou um eclipse solar com a câmara escura, na Corte de Constantinopla, em princípios do século XI.
Nos séculos seguintes a Câmara Escura se torna comum entre os sábios europeus, para a observação de eclipses soloares, sem prejudicar os olhos. Entre estes sábios estão o inglês Roger Bacon (1214-1294) e o letrado hebreu Levi ben Gershon (1288-1344). Em 1521, Cesare Cesariano, discípulo de Leonardo da Vinci, descreve a Câmara Escura em uma anotação e em 1545, surge a primeira ilustração da Câmara Escura, na obra de Reiner Gemma Frisius, físico e matemático holandês.
No século XIV já a câmara escura passou a ter uma importante utilização nas artes, como auxílio ao desenho e à pintura. Leonardo da Vinci (1452-1519) fez uma descrição da câmara escura em seu livro de notas sobre os espelhos, mas não foi publicado até 1797. Giovanni Baptista della Porta (1541-1615), cientista napolitano, em 1558 publicou uma descrição detalhada sobre a câmera e seus usos no livro Magia Naturalis sive de Miraculis Rerum Naturalium. Esta câmara era um quarto estanque à luz, possuía um orifício de um lado e a parede à sua frente pintada de branco. Quando um objeto era posto diante do orifício, do lado de fora do compartimento, a sua imagem era projetada invertida sobre a parede branca. Em seguida, a Câmara Escura passou a ser utilizada para vários outros fins:
· Em 1620, o astrônomo Johannes Kepler utilizou uma Câmara Escura para desenhos topográficos.
· O jesuíta Athanasius Kircher, professor de Roma, descreveu e ilustrou uma Câmara Escura em 1646, que possibilitava ao artista desenhar em vários locais, transportada como uma liteira.
· Em 1685, Johan Zahn descreve a utilização de um espelho, para redirecionar a imagem ao plano horizontal, facilitando assim o desenho nas câmaras portáteis.
A imagem produzida através de uma lente é bastante nítida devido à refração. Os raios de luz divergentes refletidos por um ponto do sujeito são refratados pela lente e passam a convergir a um único ponto.
O fato de quanto menor o orifício, a imagem se torna mais nítida, que foi escrito acima, também trouxe outro problema, pois proporcionalmente a nitidez, a imagem se tornava escura. Este problema foi resolvido em 1550 pelo físico milanês Girolano Cardano, que sugeriu o uso da lente biconvexa junto ao orifício, permitindo desse modo aumentá-lo, para se obter uma imagem clara sem perder sua nitidez. Isto foi possível, graças à capacidade de refração do vidro, que torna convergentes os raios luminosos refletidos pelo objeto; assim, alente fazia com que para cada ponto luminoso do objeto correspondesse a um ponto na imagem, formando-se ponto por ponto da luz refletida do objeto uma imagem puntiforme.
Outro aprimoramento na câmera escura apareceu: foi instalado um sistema junto com a lente que permitia aumentar e diminuir o orifício. Este foi o primeiro diafragma. Quanto mais fechado o orifício, maior era a possibilidade de focalizar dois objetos a distâncias diferentes da lente. Em 1573, o astrônomo e matemático florentino Egnatio Danti, em La perspecttiva di Euclide, sugere mais um aperfeiçoamento: a utilização de um espelho concavo para reinverter a imagem. Em 1580, Friedrich Risner descreve uma câmara escura portátil mas a publicação só foi feita após a sua morte, na obra Optics de 1606.
Um sistema de lentes que combinavam três distancias focais diferentes, é elaborado por Daniel Schwenter, este mesmo é utilizado por Hans Hauer em sua panorâmica de Nuremberg e mais tarde evoluiria para um sistema de lentes intercambiáveis. Descobre-se também, que não era necessário o artista se introduzir dentro da câmara, mas podia leva-la ao que lugar que fosse sob seu braço... Coisas certamente maravilhosas, mas com ela surge um novo desafio que só pode ser superado com a ajuda da química: como passar as imagens captadas para o papel sem precisar de desenhista ou pintor de retratos?
O cientista italiano Ângelo Sala, observou que um certo composto de prata se escurecia ao ser exposto ao sol, no ano de 1604, e mais de um século depois, em 1727, o professor de anatomia Johann Heirich Schulze, da universidade alemã de Altdorf, notou que um vidro que continha ácido nítrico, prata e gesso se escurecia quando exposto à luz proveniente da janela. Por eliminação, ele demonstrou que os cristais de prata halógena ao receberem luz, e não o calor como se pensava à época de Ângelo, se transformavam em prata metálica negra. Sua intenção com essas pesquisas era a fabricação artificial de pedras luminosas de fósforo, como ele as denominava. As suas observações foram acidentais, casuais, e por este motivo, não tinham utilidade prática neste período, Schulze cedeu suas descobertas à Academia Imperial de Aldorf, em Nürenberg, na apresentação intitulada "De como descobri o portador da Escuridão ao tentar descobrir o portador da Luz".
ENTÃO, SURGE A FOTOGRAFIA
Houve dois fatos antecedentes à invenção da fotografia. O primeiro diz respeito à Thomas Wedgwood. Ele obteve imagens mediante a ação da luz sobre o couro branco impregnado de nitrato de prata. O segundo fato foi o de o químico Karl Scheele descobrir que o amoníaco com excelência como fixador.
Joseph Nicéphore Niépce, produziu a primeira imagem fotográfica numa placa de estanho coberta com um derivado de petróleo chamado Betume da Judéia. Esta foi produzida com uma câmera, sendo exigidas cerca de oito horas de exposição à luz solar. Niépce e Daguerre (que também desenvolvia trabalhos na fotografia) durante algum tempo mantiveram correspondência sobre seus trabalhos. Em 1829 firmaram uma sociedade com o propósito de aperfeiçoar a heliografia, compartilhando seus conhecimentos secretos. Esta sociedade não deu certo porque Daguerre percebeu as grandes limitações do betume da Judéia e decidiu prosseguir sozinho com a prata halógena. Em 1835 Daguerre desenvolveu um processo usando prata numa placa de cobre denominado daguerreotipo. O daguerreotipo tornou-se mais popular pois atendeu à demanda por retratos exigida da classe média durante a Revolução Industrial. Esta demanda, que não podia ser suprida em volume nem em custo pela pintura a óleo, deve ter dado o impulso para o desenvolvimento da fotografia. Dois anos após a morte de Niépce, Daguerre descobriu que uma imagem quase invisível, latente, podia-se revelar com o vapor de mercúrio, reduzindo-se, assim, de horas para minutos o tempo de exposição. Conta a história que uma noite Daguerre guardou uma placa sub-exposta dentro de um armário, onde havia um termômetro de mercúrio que havia se quebrado. Ao amanhecer, abrindo o armário, Daguerre constatou que a placa havia adquirido uma imagem de densidade bastante satisfatória, tornara-se visível. Quase simultaneamente, William Fox Talbot desenvolveu um diferente processo denominado calotipo, usando folhas de papel cobertas com cloreto de prata. Este processo é muito parecido com o processo fotográfico em uso hoje, pois também produz um negativo que pode ser reutilizado para produzir várias imagens positivas. Hippolyte Bayard também desenvolveu um método de fotografia, mas demorou em anunciar e não foi mais reconhecido como seu inventor.
Recentemente, os processos fotográficos modernos sofreram uma série de refinamentos e aprimoramentos sobre os fundamentos de William Fox Talbot. A fotografia tornou-se muito importante para o mercado em em 1901 com a introdução da câmera Brownie-Kodak e, em especial, com a industrialização da produção e revelação do filme. Muito pouco foi alterado nos princípios desde então, além de o filme colorido tornar-se padrão, o foco automático e a exposição automática. Houve a fase da fotografia em preto e branco, meio tom e colorida. A gravação digital de imagens está crescentemente dominante, pois sensores eletrônicos ficam cada vez mais sensíveis e capazes de prover definição em comparação com métodos químicos.
A fotografia digital é a fotografia tirada com uma câmera digital ou determinados modelos de telefone celular, resultando num arquivo de computador que pode ser editado, impresso, enviado por e-mail ou armazenado em websites ou CD-ROMs. Em 1990, a Kodak lançou o DCS 100, a primeira câmera digital comercialmente disponível. Seu custo impediu o uso em fotojornalismo e em aplicações profissionais, mas a fotografia digital nasceu.
Em 10 anos, as câmeras digitais se tornaram produtos de consumo, e estão provavelmente substituindo gradualmente suas equivalentes tradicionais em muitas aplicações, pois o preço dos componentes eletrônicos cai e a qualidade da imagem melhora.
A fotografia tradicionalmente revelada permanecerá, pois os amadores dedicados e artistas qualificados preservam o uso de materiais e técnicas.
A CÂMERA CINEMATOGRÁFICA
Quem é que não gosta de ir ao cinema? Então, a mágica da câmera obscura ainda acontece hoje, séculos depois daquelas primeiras grandes caixas. Mas a imagem que bate na parede hoje não é simples reprodução do mundo exterior, mas sim o resultado do trabalho de dezenas, às vezes centenas de pessoas que criaram todo um mundo imaginário, que existe apenas no momento da sua projeção. As diferenças entre as antigas câmeras e as atuais encontram-se apenas na comodidade e praticidade no uso e manuseio dos equipamentos.
O cinema nasceu de várias inovações que vão desde o domínio fotográfico até a síntese do movimento utilizando a persistência da visão com a invenção de jogos ópticos. Dentre os jogos ópticos inventados vale a pena destacar o thaumatrópio (inventado entre 1820 e 1825 por William Fitton), fenacistoscópio (inventado em 1829 por Joseph-Antoine Ferdinand Plateau), zootropo (em 1834 por William George Horner) e praxinoscópio (em 1877 por Émile Reynaud). Em 1888, Émile Reynaud melhorou sua inveção e começou projetar imagens no Musée Grévin durante 10 anos. Em 1876, Eadweard James Muybridge fez uma experiência, primeiro colocou doze e depois vinte e quatro câmaras fotográficas ao longo de um hipódromo e tirou várias fotos da passagem de um cavalo. Ele obteve assim a decomposição do movimento em várias fotografias e através de um zoopraxinoscópio pode recompor o movimento. Em 1891, Thomas Edison inventou o cinetógrafo e posteriormente o cinetoscópio. O último era uma caixa movida a eletricidade que continha a película inventada por Dickson mas com funções limitadas. O cinetoscópio não projetava o filme.
A data de 28 de dezembro de 1895 é de extrema importância no que se refere ao cinema e sua história. Neste dia, no Salão Grand Café, em Paris, os Irmãos Lumière fizeram uma apresentação pública dos produtos de seu invento ao qual chamaram Cinematógrafo. O evento causou comoção nos 30 e poucos presentes, a notícia se alastrou e, em pouco tempo, este fazer artístico conquistaria o mundo e faria nascer uma indústria multibilionária. O filme exibido foi L'Arrivée d'un Train à La Ciotat.
O cinema hoje, principalmente Hollywood, nos Estados Unidos, é uma grande indústria que movimenta quantias exorbitantes de capital. O desenvolvimento da tecnologia digital proporcionou a elaboração de efeitos especiais bárbaros. A cinematografia passou por diversas fases. O cinema das origens era mudo. As projeções sonoras públicas, realizadas através da sincronização do projetor com um toca discos, inauguraram-se em 1912 no Gaumont-Palace. Em 1927, surgem os dois primeiros longas-metragens falados: O cantor de jazz (Warner) e O sétimo céu (Fox).
No ano de 1947, o cinema passa por um período obscuro de sua história, quando o Comitê de Segurança dos Estados Unidos fez a primeira lista negra de Hollywood acusando 10 diretores de promover propaganda comunista. A lista é aumentada ainda nos anos cinqüenta incluindo além dos diretores, atores e até escritores. Charlie Chaplin estava nesta lista.